Movimentos Sociais
O poder ilimitado dos movimentos sociais.Hoje, no Brasil, qualquer movimento social é intocável.
A sociedade, sem perceber, e, principalmente movida pela vontade de ser politicamente correta, concedeu aos movimentos sociais o direito de fazer, inclusive, justiça com as próprias mãos.
O problema se agrava quando percebemos que cada movimento social tem seu dono. Tem um líder. Tem um coordenador. E esse manda-chuva, geralmente está há anos e anos no comando do seu movimento.
Antes de continuarmos nossa linha de raciocínio, vamos prestar atenção a uma entrevista dada por João Pedro Stédile, um dos coordenadores do MST:
Entrevistador - Mas, ô, Stédile, qual é o sentido de invadir e DESTRUIR o laboratório da Aracruz? Qual é o sentido específico disso?
Stédile - Te agradeço a pergunta. A Aracruz comprou 300 mil hectares no Rio Grande do Sul. Está plantando eucalipto sem licença ambiental. Então, sem licença ambiental eles estavam plantando eucalipto em um bioma que exige cuidado segundo os ambientalistas e os técnicos da própria FEPAM. Então nós decidimos como uma forma de chamar a atenção da opinião pública ocupar o canteiro de mudas e DESTRUIR as mudas.
Então é isso. O que este senhor está dizendo é o seguinte: Se uma pessoa ou uma empresa fizer algo que EU considero ilegal, eu vou lá e destruo! Ele é o juiz e o executor. Ele julga que a empresa está errada, vai lá e executa. Que Ministério Público, que nada! Que polícia, que nada. Pra que recorrer à lei se eu posso tudo? Afinal de contas eu sou representante de um movimento social. E movimento social, no Brasil, pode tudo. Movimento social, no Brasil, é Juiz e executor. Isso no Brasil.
Em um país Democrático e de Direito, quando você vê uma pessoa ou uma empresa fazendo algo errado, você avisa ao Ministério Público, ou você chama a polícia. Mas no Brasil, é só fazer parte de um movimento social que você faz a justiça do jeito que você achar melhor. E ainda vem certos sociólogos, jornalistas e políticos pra te aplaudir.
Entrevistador - Mas olha, teve esse caso da Aracruz mas já teve no passado o caso da Monsanto também...
Stédile - A Monsanto eu te explico. A Monsanto estava reproduzindo semente transgênica lá na área de Não-me-toque - eu estive lá com Bové - sem licença da CTNBio. Nós fomos lá, ocupamos, DESTRUÍMOS a soja e dissemos para a CTNBio - Vocês sabiam que eles estão produzindo soja soja transgênica aqui?
Mais uma vez. O movimento julga que a empresa está fazendo algo errado... vai lá e destrói! Depois que destrói, comunica a todos o motivo da destruição. Destruímos porque a empresa mereceu! O ponto aqui não é o merecimento da empresa. É o cumprimento da lei! Ninguém está autorizado a fazer justiça pelas próprias mãos. Nem movimento social. Se a empresa está errada, denuncie! Mas ninguém, ninguém tem o direito de destruir propriedade alheia.
Entrevistador - Mas olha só Stédile, meu ponto é o seguinte: Não existe uma certa arrogância sua, uma vez que você, o senhor, ao adotar esta postura desconhece o Ministério Público, a polícia... quer dizer, se eu verifico uma coisa errada eu vou lá e invado a casa, tomo a providência que eu acho correta?
Stédile - Te agradeço. Te agradeço a pergunta. No caso de Não-me-toque, da Monsanto, nós tínhamos avisado o Ministério Público. Havia um processo. No caso da Syngenta do Paraná, não só nós avisamos ao Ministério Público, como tinha uma multa do IBAMA de 500 mil - que até hoje a Syngenta não pagou - porque ela estava reproduzindo milho transgênico a 800 metros da floresta nacional do Iguaçu, que era proibido por lei. O IBAMA deu a multa e ninguém tomou providência. Só veio à tona quando nós ocupamos.
Veja outra vez. Nós avisamos ao Ministério Público. Mas como o Ministério Público não fez aquilo que nós queríamos que ele fizesse...nós fomos lá e destruímos tudo. Eu não consigo entender como o Brasil permitiu que movimento social e sindicato se transformasse em entidades acima da lei.
Stédile - Nós assumimos o poder, o direito aliás, que a população brasileira tem de se manifestar sempre que assistir alguma injustiça. Isso é um direito de manifestação. Está na constituição.
Entrevistador - Mas e os métodos senhor Stédile?
Stédile - Método da mobilização social? Mobilização social é mobilização social!
Esse último trecho talvez seja o mais significativo de todos. Quando o entrevistador questiona os métodos utilizados pelo movimentos social, o coordenador do movimento responde:
-Método da mobilização social? Mobilização social é mobilização social!
Isso deixa claro que o movimento social não tem freio. Qualquer método escolhido pelo movimento social vai ficar protegido pelo simples fato de ser um movimento social.
Qualquer pessoa que destruísse mudas de eucalipto porque é contra a empresa que as está plantando, seria acusado de utilizar um método criminoso que se utiliza da destruição de propriedade alheia. Mas o movimento social não. Mobilização social é mobilização social. Pode tudo!
E, honestamente, não estou falando deste caso específico. Não estou falando especificamente deste senhor. Todo movimento social recebeu esses poderes da nossa sociedade. E isso tem que mudar. Direito de manifestação é legítimo. Fazer baderna, destruir propriedades, interromper as avenidas principais durante dia de semana....isso não é manifestação. Isso é uma mistura de chantagem com terrorismo.
É como se o movimento falasse...ou você faz o que eu estou mandando...ou eu vou agir do meu jeito.
Eu sou eterno defensor do direito de manifestação. Mas nossa legislação tem que mudar. Manifestação não pode acontecer interrompendo avenida principal em dia de semana.
Direito de manifestar não é direito de atrapalhar a vida alheia. Direito de manifestar é o direito de divulgar livremente a sua ideia.
Interromper a avenida principal em dia de semana, fere o direito de locomoção de toda a população. E no momento em que o direito de meia dúzia de manifestantes se sobrepõe ao direito de todo o resto da população...tem algo muito errado aí.
O Brasil tem que colocar o movimento social no seu devido lugar. E esse movimento no seu devido lugar, terá seu valor. Mas ele tem que ser restrito ao seu devido lugar.